Por que há tantos prédios feios no Recife?

Toda vez que surge um prédio novo em Recife, eu só penso em: Meu Deus. Uma das poucas construtoras que planejava algo bacana faliu antes de entregar algum prédio de fato grande. A HAUT (tem uma notícia sobre ela no Marco Zero) tinha prédios que você via e falava: nossa, isso é realmente diferente dessa arquitetura padronizada do Recife.

Esse aqui era o meu sonho de consumo. E é um prédio que honestamente, acredito que nunca verá a luz do dia. Cada apartamento teria sua própria piscina, além de bastante verde e bastante áreas compartilhadas. Era quase como um conceito de coliving aplicado em imóveis próprios.

Outra construtora que, espero eu, seja bastante sólida é a Max Plural. Ela tem alguns projetos similares, mas bem menos ousados e mais “comerciais” como disse o ex-presidente da HAUT. Apesar de serem um pouco menos coliving, ainda passa uma impressão de moderno, novo e preocupação não apenas com o imóvel construído, mas com todos ao redor.

Aí você compara isso com os prédios construídos na orla de Boa Viagem, por exemplo. Ou então os recém construídos pela MRV, Direcional ou qualquer outra construtora. Até mesmo a Moura Dubeux e a Casa Orange (antiga Queiroz Galvão). Eles possuem tipo: diversos prédios padrão, e alguns 2 que fogem totalmente do padrão dos prédios atuais e antigos deles.

MRV e Direcional: Prisão vertical

No vídeo Recife Sem Conforto (eu estou fazendo um postzão de ideias para Recife), o apresentador fala sobre esse conceito de prisão vertical. Que os apartamentos do MCMV (Minha Casa Minha Vida), além de não estarem disponíveis na capital, não possuem absolutamente nada que uma população precisaria, como escolas ou clínicas.

Esse da MRV, por exemplo, será construído em Camaragibe. As áreas de lazer são… básicas. Espaço Gourmet, Piscina Adulto, Piscina Infantil, Playground, Salão de Festas com Copa. Tudo bem separado, tudo com cara de mais um prédio construído. O único verde nesse projeto são essas palmeiras (?). Isso é algo que se repete em diversos outros imóveis da empresa. Por exemplo, esse abaixo também será construído em Camaragibe.

Só tem as palmeiras (?) e uns arbustinhos separado a garagem de um lado da garagem da outra. Imagina o calor que isso vai fazer quando estiver 100% construído. A Direcional também tem a mesma ideia, a quantidade de concreto vs. áreas verdes é simplesmente absurda.

Por sinal, você já se perguntou por que condomínios populares geralmente têm 5 andares ao invés de 6 ou 7? Então, é para não precisar instalar elevadores. A lei permite que prédios com até 5 pavimentos não tenham elevadores. E, geralmente, os primeiros andares do edifício são voltados para pessoas com deficiência. Tanto é que prédios populares como a Direcional e a MRV possuem plantas específicas para PCD no térreo.

Se vier um maluco falar: “mas você está comparando imóveis de classe média e de luxo com imóveis sociais“. Não é desculpa não. Eu acho que é somente desculpa para não contratar um bom arquiteto e um bom paisagista para trazer uma obra que seja bonita, acessível e funcional.

Ah, o problema em Recife é que não tem muito espaço para construir imóveis populares“. Pô, constrói pra cima. Até mesmo em locais em que não dá pra colocar um verde, dá para aproveitar um parque perto e torná-lo bonitinho.

Esse prédio foi usado como refúgio para as vítimas da enchente que houve em Valencia na Espanha. E essa frase explica muito um dos motivos de eu ter achado esse prédio bonito. “In this housing emergency, the building becomes the first refuge for victims of the disaster, affirming its human and social vocation beyond its architectural role.” – Por sinal, esse prédio é voltado para social housing. Que é basicamente a mesma coisa da MRV/Direcional, tá?

Já esse abaixo na Alemanha era o antigo prédio do Ministério das Forças Armadas. Foi transformado em residências sociais. 254 unidades foram criadas, junto com um centro para crianças, um ginásio e um jardim.

Esse abaixo na Índia, apesar de eu não gostar muito do estilo de arquitetura trás tudo que uma moradia popular poderia ter. São mais de 400 unidades populares, e possuem quadra interna, jardim e muito mais. Compara a diferença desse para a renderização dos imóveis da Direcional. Ambos servem o mesmo propósito.

Ah, mas isso são tudo projetos em outros países. Não seria viável construir algo assim no Brasil! Esse projeto abaixo é de São Paulo, tá, meu princeso? Inclusive, aqui tem toda a explicação do projeto.

Ainda sobre MRV/Direcional: Dá para fazer coliving popular, sem ser feio

Os imóveis acima são mais para pessoas que não possuem condições nenhuma de comprar um imóvel. Posso estar errado, e me corrija sobre, mas eles são imóveis populares para população carente, desprovida de teto.

O exemplo abaixo já é um conceito um pouco mais “caro”, para pessoas que estejam interessadas em viver em um coliving. Ele está localizado em Singapura.

Já o exemplo abaixo é da Alemanha:

Imóveis voltados para a classe média

A Max Plural, Pernambuco Construtora e algumas outras construtoras focam mais em um público mais “classe média”. Aqui onde moro, em que as construções são mais antigas, é notável a feiura. Parecem prédios abandonados (mas olha, tem gente morando).

Os prédios em que meus pais moram, mostram, por exemplo, uma completa falta de integração entre um prédio e outro. São três edifícios, mas cada um com seu condomínio e seu síndico. Sem nenhuma integração entre os três prédios, ou seja, enquanto poderia ter um senso de comunidade ali, tem, na verdade, um muro separando cada bloco.

E aí você vai para a parte “rica” de Boa Viagem, e é tudo a mesma coisa, só muda a forma.

Não precisa ser algo feito pelo escritório da Zaha Hadid (infelizmente, ela não está mais entre nós). É só sair um pouco do famoso bloco redondo ou quadrado, verde ou azul, com um espaçozinho interno para piscina e algum outro benefício (às vezes nem isso). Todos os exemplos usados abaixo são de imóveis brasileiros, com exceção do primeiro, pois achei ele bonito para caramba.

Esse primeiro fica no Camboja. Olha que coisa linda (e verde).

Esse apartamento é em Porto Alegre. Aquele espaço ali em cima, com o jardim vertical, imagina chamar os amigos para beber uns vinhos ali em cima. Como deve ser mágico…

Em Tatuapé:

Em São Paulo:

Esse também é em São Paulo:

Até mesmo prédios que seguem o formato de blocos, dá pra fazer algo bonito. Esse abaixo também é em São Paulo.

Eu vou encerrar este post por aqui, mas fica minha dúvida sobre os prédios de Recife. Inclusive, os prédios do Novo Recife são igualmente feios, tá… mas é melhor do que o projeto original…

Esse da cima é o projeto aprovado para o Cais Novo Recife da Moura Dubeux. Abaixo, a aberração que queria aprovar antes.

Por sinal, depois desse post, eu acho que a galera da esquerda e da direita vai se unir e uníssono me mandar tomar no…

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